Seção: Música - 10/12/2008 10:29
Toninho Horta, o cientista dos acordes
Kiko Ferreira - EM CulturaNo seu Dicionário musical brasileiro, Mário de Andrade define: “Harmonia (s.f.): Estudo de combinação de notas soando simultaneamente (acorde) e de seu encadeamento. É a ciência do acorde...”. O escritor e pesquisador morreu em 1945, três anos antes de nascer, em Belo Horizonte, aquele que é considerado, principalmente pelos músicos, o rei da ciência do acorde: Toninho Horta.
Pena que Mário de Andrade não tenha vivido na época do guitarrista, que está comemorando seus 60 anos, para conhecer suas harmonias inventivas. Capazes de provocar no autor do blog Pensador selvagem o texto “Uma imagem de delicidade”, uma tentativa livre de traduzir o prazer de ouvir uma harmonia construída por Toninho, comparado por ele a um livro de Proust e a um quadro de Van Gogh:
“Um acorde de Toninho Horta = todas as palavras da Bíblia. Dois acordes de Toninho Horta = Bíblia Alcorão”.
UM CLÁSSICO
Exageros apaixonados à parte, o músico merece as loas, pela absoluta originalidade de seu trabalho. E por chegar às seis décadas de vida chamando ao palco de seu show o rapper Renegado, preparando um disco em homenagem ao americano Wes Montgomery, ao lado de jazzistas americanos, e uma turnê pelo Brasil com numa orquestra sinfônica.
Pena que o show planejado para 29 de novembro, no Palácio das Artes, com Pat Metheny, Airto Moreira, Flora Purim, George Benson, Milton e um bando de convidados não tenha sido viabilizado financeiramente. Mas ele chega ao fim do ano realizando um sonho: a reedição de seu álbum de estréia, Terra dos Pássaros, uma obra-prima da música brasileira, lançado originalmente, em LP, em março de 1980.
Gravado durante três anos e meio, em estúdios americanos e brasileiros, envolvendo duas orquestras e um elenco sensacional de estrelas nacionais e internacionais, o disco soa novo e surpreendente, quase 30 anos depois. Com o guitarrista duelando, na procura de timbres, com seus pedais e os teclados do uruguaio Hugo Fattoruso, Terra dos Pássaros lança as bases de uma carreira consagrada. Aqui estão o humor de Falso Inglês, o lirismo de Beijo Partido, o espírito de baile de Serenade, o clima tradutor de noite de Céu de Brasília, o preciso retrato de Ouro Preto de Dona Olímpia. E aquela que talvez seja a melhor homenagem a um animal da MPB, Diana, feita para a cadela do artista, que havia morrido recentemente.
Aulas de solos, acompanhamento e... harmonia. E temas de referência para a escola mineira de guitarra: Viver de Amor, Aquelas Coisas Todas, Terra dos Pássaros. De quebra, o Caetano Veloso pouco lembrado da intimista No Carnaval, parceria com Jota que encerra o disco com Toninho, de voz e guitarra, nu com a sua música.
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